sexta-feira, 4 de junho de 2010

Deficiência mental e preconceito

Apesar do conhecimento que já se tem a respeito da DM e das crianças suspeitas de terem tal limitação, muitas pessoas ainda a consideram uma doença

Constantemente recebemos em nossos consultórios ou clínicas institucionais, crianças com queixa ou suspeita de deficiência mental, que ao final do diagnóstico, não mais surpreendentemente, constatamos grandes dificuldades emocionais e, às vezes, de relacionamento entre professor e aluno. O que detectamos é que o professor, muitas vezes, diante da dificuldade de trabalhar com um aluno em sala de aula, o diagnostica como Deficiente Mental.

Algumas providências já se tentou tomar para o tratamento de "crianças problemas" que acabam por levantar suspeitas de Deficiência Mental. Ora se criam classes especiais, colégios especiais, ora se revogam certas decisões, o que me parece é que não se sabe bem o que fazer com as chamadas crianças suspeitas de serem deficientes mentais.

Na história da doença mental, podemos verificar que tudo aquilo que fugia à compreensão do homem era considerado demoníaco, ou seja, do mau, e junto com essa denominação, caminhava a seu lado a desqualificação.

Encontraríamos aí, na histórica da doença mental, a origem de nossos preconceitos com relação à Deficiência Menta (DM)? Apesar do conhecimento que já se tem a respeito da DM e das crianças suspeitas de portarem tal limitação, muitas pessoas ainda a consideram uma doença. Podemos detectar esse preconceito através da observação das atitudes sociais frente a essas crianças. Esses indivíduos provocam aversão e afastamento do meio social como se fossem portadoras de doença contagiosa. Aquilo que é diferente e desconhecido é ameaçador. Com relação à DM, estudos agora comprovam que ela não é uma doença, mas sim uma condição.

Podemos pensar que quanto mais narcísica for uma sociedade, uma cultura, maior a exigência de perfeição e de igualdade entre seus membros. Tudo aquilo que não se adequar aos padrões considerados "normais" ou desejados, fica condenado à discriminação e rejeição; a condição de diferente leva a uma classificação pejorativa. Encontramos muito esse tipo de comportamento em adolescentes, que nada mais representam em escala elevada os sentimentos e pensamentos de uma sociedade. O adulto, por uma questão moral e social, aprendeu a disfarçar seus sentimentos considerados inadequados, moralmente feios, através de informações ou de um discurso bem articulado. Portanto, é sabido que a pessoa com DM não é um doente, mas sim alguém com uma condição diferente, com limitações. Mesmo portadores dessa informação, encontramos poucos profissionais dispostos a trabalhar com essa população.

Em um estudo realizado na Universidade Santo Amaro a respeito de atitudes e crenças dos graduandos em relação à DM, Feitosa (2000)* constatou que, mesmo tendo informações sobre a DM, alunos do curso de pedagogia e de psicologia não pensam e não têm vontade de trabalhar com pacientes ou alunos portadores de DM. Ou seja, somente a informação não habilita ninguém a trabalhar de maneira adequada com crianças ou pessoas com Deficiência Mental nem, muitas vezes, desperta o desejo por esse tipo de trabalho, mas sim, o que pode facilitar a inserção de um profissional para o trabalho com esses sujeitos é a capacidade de lutar contra os próprios preconceitos; conhecê-los e admiti-los é o primeiro passo para se lutar contra eles.

Torna-se necessário assim que, além da informação, os profissionais responsáveis pela formação de psicólogos e pedagogos trabalhem os estereótipos e preconceitos que ainda existam por parte desses alunos no trabalho com sujeitos portadores de DM. Excluí-los do convívio social, só agrava a diferença e aumenta a limitação do indivíduo. È preciso estimular esses sujeitos para minimizarmos as diferenças e aproveitarmos seus potenciais a fim de podermos construir indivíduos produtivos para a sociedade.


Fonte: Psicopedagogia Online | Maria Flávia Ferreira, psicóloga e psicanalista

Deficientes Físicos e o Mercado de Trabalho

Desde a criação da Lei Federal 8.213, de 24 de julho de 1991, que obriga empresas com mais de 100 funcionários a ter em seu quadro deficientes físicos, as pessoas nestas condições encontram um número cada vez maior de vagas no mercado.


Acredito que esta medida, como muitas outras leis de cotas, tem por objetivo reduzir de forma paliativa a desigualdade social, no entanto, me questiono qual é a eficiência desta ação.


Observo que a contratação de deficientes físicos para algumas empresas é visto como uma obrigação. Desta forma, os empregadores buscam no mercado os profissionais com deficiências “menos graves”, que não exijam grandes investimentos.


Antes de pensar na abertura de vagas para deficientes no mercado de trabalho é importante lembrar que para que eles tenham reais chances de concorrer às vagas é primordial ter suportes como: acessibilidade e educação.


A cidade de São Paulo, com seu transporte público super lotado, calçadas quebradas, ruas esburacadas, escadas, etc., traz dificuldades de acesso a todos, no que dirá aos deficientes físicos. Não posso deixar de colocar que muitas medidas já foram realizadas neste sentido, como ônibus com acesso aos cadeirantes, construção de rampas, lugares reservados no transporte público e o próprio Atende, que é um transporte exclusivo para os deficientes. De toda forma, muito há para ser feito neste sentido.


Com as dificuldades de acesso e locomoção nasce uma segunda dificuldade: acesso às escolas. O primeiro problema enfrentado é que, ainda hoje, algumas escolas se recusam a aceitar alunos que apresentem alguma deficiência, com a justificativa de que elas não possuem recursos técnicos ou mesmo profissionais preparados para aceitá-los. Nas escolas em que os deficientes são aceitos as dificuldades para ir a escola, realizar as atividades como os demais alunos e ser aceito também são fortes, fazendo com que poucos finalizem a sua formação.


Com tais dificuldades o número de deficientes físicos capacitados e com formação acadêmica no mercado é pequeno. Muitas empresas alegam esta dificuldade, permanecendo com vagas abertas durante meses sem sequer um candidato.


Acredito que este quadro melhora a cada ano (felizmente), mas para que isto melhore a passos largos é necessário que cada um na sociedade identifique qual é o seu papel diante desta questão, em especial o governo, educadores e empregadores. Somente desta forma será possível atingir a igualdade que nunca deveria ter deixado de existir.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Falar com as mãos

A inclusão de crianças com deficiência auditiva sempre foi polêmica, mas recentemente ganhou um novo rumo em nosso país. De acordo com a política do governo federal, elas não devem mais ficar segregados nas escolas especiais e precisam estudar desde cedo em unidades comuns, com um intérprete que traduza todas as aulas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e o contraturno preenchido por atividades específicas para surdos. Problema resolvido? Nem de longe. Enquanto entidades do setor ainda denunciam a falta de estrutura para a implementação das regras (leia o quadro na página 74), os docentes já começam a receber parte dessa nova clientela e estão criando formas próprias de trabalho - muitas com sucesso.

Não é uma tarefa fácil nem existe uma fórmula conceitualmente correta para lidar com a situação. Cada caso é um caso (saiba como pedir ajuda no quadro abaixo). A professora de Geografia Marilda Dutra, da EE Nossa Senhora da Conceição, em São José, na Grande Florianópolis, por exemplo, aprendeu uma lição curiosa logo nos primeiros dias de trabalho. Para ensinar quem não ouve, ela tem de falar mais. A maior mudança foi deixar o giz em segundo plano. Cada tipo de relevo, clima e vegetação precisava de fotografias, desenhos, gravuras e muitos exemplos verbais. Em vez de simples mapas, o mundo passou a ser representado em bolas de isopor para facilitar a compreensão dos meridianos.